Paulo de Jesus x Milton Rosa

O Ginásio do Ibirapuera ficou superlotado na noite de 1º de agosto de 1958. Tenso, o público chegou cedo para ver o duelo entre os pesos-médios Paulo de Jesus e Milton Rosa. O segundo era apontado pela imprensa como favorito, pois estava em melhor forma.

O combate foi equilibrado, brutal e com uma ligeira vantagem de Milton, que, desta forma, manteria o cinturão. Com golpes curtos e precisos, foi acumulando pontos e por três vezes abalou o desafiante.

No nono assalto, Milton colocou uma forte direita, que mandou Paulo para as cordas. Completamente batido, o desafiante estava pronto para receber mais uma direita, que seria definitiva.

Mas o melhor contragolpe da história do boxe brasileiro estava por vir. Quando Milton disparou a direita, Paulo se esquivou e, com a ajuda das cordas, soltou um monstruoso gancho de direita que explodiu no queixo do campeão.

Milton caiu para a frente e ainda bateu com o rosto na lona. Desacordado. O juiz Americo Curi levantou o braço do novo campeão dos médios.

O barulho no Ibirapuera foi intenso, com o público vibrando com a espetacular luta. Mas, aos poucos, a excitação se transformou em apreensão e depois em desespero, pois Milton parecia morto em cima do ringue.

O técnico italiano Arnaldo Tagliatti, percebendo a gravidade, retirou as sapatilhas de Milton e fez uma massagem do-in em seus pés. Na época, disseram que o método salvou a vida de Milton.

Ele foi levado ao Hospital Beneficência Portuguesa e entrou em estado de coma. Sabendo da situação crítica do adversário, Paulo de Jesus foi para a porta do hospital e só saiu de lá após saber que Milton estava fora de perigo.

Com Milton tendo alta, Paulo cumpriu uma promessa e foi a pé da Vila Pompéia, bairro onde morava, até a Igreja Nossa Senhora da Penha.

Milton se recuperou totalmente. Nunca mais lutou. Morreu, aos 78 anos, em 2012.

Paulo de Jesus fez mais duas lutas. Não venceu. Morreu, aos 67 anos, em 2001.