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Contos do Boxe Brasileiro 1: Paulo Sacomã e o 1.º “fair play” do esporte

Baldini

Dono de uma esquerda aniquiladora, Paulo Sacomã, ''O Martelador do Peruche'', foi um dos maiores pegadores da história do boxe brasileiro. Suas incríveis vitórias por nocaute lotavam os ginásios e muitos de seus adversários nas categorias dos médios e meio-pesados jamais voltaram a lutar após ter pela frente seus punhos poderosos.

Em 11 de abril de 1958, no Ginásio do Ibirapuera, Paulo Sacomã enfrentou o meio-pesado português Júlio Neves. No quarto assalto, Paulo dominava amplamente o duelo e para piorar a situação do boxeador europeu, uma daquelas esquerdas arrasadoras aterrizaram no seu queixo.

Neves foi de um lado a outro do ringue, mas não caiu. Olhos vidrados, com o braço enroscado na corda superior, ficou parado, grogue, pronto para receber o golpe de misericórdia.

Apesar do incentivo que vinha de todo o ginásio, Paulo parou. O juiz José Nicoló ordenou que ele continuasse o ataque, mas Paulo se negou e disse: ''Não posso, não posso…Olha,, ele está mal.''

Nicoló insistiu para que Paulo seguisse no ataque, mas ele se recusou a atacar mais uma vez. O juiz se dirigiu até Júlio Neves, completamente tonto, ergueu seu braço e declarou vitória ''por abandono''.

O público se revoltou com a atitude do juiz e Paulo deixou o ginásio como herói.

Este talvez tenha sido o primeiro lance de fairplay do esporte mundial.

Paulo Sacomã morreu em 3 de agosto de 1995, aos 66 anos.